sábado, 12 de setembro de 2020

Conto "O Tabuleiro"

 Olá!

Informações do Conto:
Título: O Tabuleiro
Autor: Rui Martins
Número de Palavras: 1.015 Palavras

Créditos: Fábrica de Histórias


Santa Catarina. 15 horas da tarde. Dois amigos de seus nomes Leandro e Artur tentavam estudar para a sua prova de História. O tema seria a independência do Brasil.
– Juro que não estou entendendo nada disso. – Comentou Leandro.
Leandro estava na biblioteca da escola em frente a Artur. Os dois olhavam para as folhas do caderno sem entenderem nada.
– Não acredito como é que Dom Pedro começou ali a discursar para um bando de nada. – Falou Artur.
Leandro riu. Eles estavam no fundo da biblioteca, onde estava a estante com os livros de literatura policial e de assuntos mais esotéricos. Artur não estava com muita paciência para o estudo e Leandro entendeu isso, pois não conseguia manter o olhar no livro à sua frente. A biblioteca estava um pouco vazia àquela hora e a senhora Adriana estava de costas para eles olhando para o computador. O relógio atrás deles fazia um "tic-tac" ensurdecedor. Leandro olhou atrás de si. Olhou concretamente para uma estante em específico. Artur entendeu.
– O que está procurando?
– Um tabuleiro.
– Um tabuleiro de quê? Os jogos estão lá do outro lado.
– Um tabuleiro de Ouija.
Artur fez um ar de choque.
– Você está louco? O que é que você quer fazer? – Sussurrou.
Leandro se levantou da cadeira e foi pegar o tabuleiro de Ouija na estante onde olhou. Voltou com ela, pousando sobre a mesa. Com o copo de água que o Artur tinha levado com ele, virou ao contrário fazendo pingar algumas gotas sobre a mesa. Artur via tudo, chocado.
– Você não está pensando em fazer o que eu estou pensando.
– E no que você está pensando?
– Você vai fazer o quê? Chamar os espíritos das provas?
– Não, vou chamar o Dom Pedro.
– Vai o quê?! Você está maluco?
– Ninguém melhor do que ele para nos explicar o que aconteceu nessa época aqui. Como ele conseguiu a independência e essas coisas todas.
– E como você vai saber que vai ser o Dom Pedro?
– Vamos tentar.
Artur se virou para trás. A senhora Adriana estava desatenta, perdida ainda com o olhar sobre o seu computador. Ele se virou novamente para Leandro.
– Ela vai entender. – Artur apontou o seu dedo polegar para trás de si. Leandro entendeu.
– Não vai não, ela está ouvindo música. Não viu ainda?
– Como assim?
– Olhe lá o fone. Depois de almoço ela bebe demais e fica só ouvindo música. Nem quer saber dos alunos que entram aqui.
Artur encolheu os ombros e respirou fundo. Eles iriam mesmo fazer aquilo. Sim, Leandro posicionou o copo sobre o tabuleiro. O jogo tinha começado!
Sob o som do "tic-tac" do relógio, Leandro e Artur tentaram contactar com Dom Pedro, imperador do Brasil. Eles colocaram os dedos indicador e médio no tabuleiro e Leandro colocou o copo em cima da letra G. Um espírito foi falar com eles.
– Quantos espíritos há neste lugar? – Sussurrou Leandro.
O copo ficou parado alguns segundos. Artur respirou de alívio. Estava com medo. Leandro não parou de olhar para o copo. Ele se movimentou, finalmente, para susto de Artur. A resposta foi o número 3.
– Algum esteve presente na independência do Brasil?
O copo se movimentou para o sim. Leandro prosseguiu.
– Dom Pedro é um deles?
O copo se movimentou para o sim e de seguida ficou vagueando entre as bordas do tabuleiro. Artur e Leandro se olharam. Pelas regras, quando isso acontece é porque estão falando com um espírito ruim. Dom Pedro era ruim? Artur olhou para o caderno e fez a sua pergunta.
– Nasceu em Outubro?
O copo se moveu para o sim.
– Era alto?
O copo permaneceu no sim.
– Tem um temperamento impulsivo?
O copo continuou no sim. Leandro abanou a cabeça. Não era nada disso que queria perguntar.
– Você adotou as ideias liberais? – Decidiu perguntar, interrompendo Artur.
O copo permaneceu no sim.
– Por que decidiu permanecer no Brasil após 1821?
O copo começou a parar em algumas letras. Eles olharam atentos. "Para ficar próximo dos brasileiros. Eu me sentia bem. A minha família chorou ao voltar para o Brasil".
– Como se tornou imperador?
"Após dar o Grito de Ipiranga, dando a independência do Brasil, eu me coroei".
– Isso foi em que ano?
"1822".
– Por que fez isso?
"A América do Norte já se tinha tornado independente da Inglaterra e nas colónias espanholas da América do Sul já se ansiava a libertação".
– Como o seu pai, Dom João VI, entendeu isso?
"Entendeu bem. Ele me mandou uma carta em 1822 dizendo que ainda se lembra e lembrará sempre do que Vossa Majestade me disse no meu quarto dia antes de partir: Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti que me hás-de respeitar do que para alguns desses aventureiros".
– Era a favor das ideias absolutistas?
O copo parou no sim.
Os dois ainda fizeram algumas perguntas e depois disseram "adeus". Já sabiam tudo.
Saíram da biblioteca e um dia depois foi a prova. Correu muito bem para eles. Um mês depois veio a nota. Vermelha. A professora comentou que haviam feito confusão com Dom Miguel, irmão de Dom Pedro. Aí eles entenderam tudo. Foi o espírito de Dom Miguel quem falou com eles na biblioteca. Ele os havia enganado. Dom Miguel era a favor das ideias absolutistas. Dom Pedro era liberal moderado. Dom Miguel era ruim, foi ruim para o irmão entrando em guerra com ele. Dom Pedro era conhecido por ser bom.
No dia seguinte voltaram à biblioteca e foram tentar falar com o espírito de Dom Miguel. Ele surgiu. A conversa não correu muito bem. Dias depois os dois começaram a ter alucinações e perdas de sentidos. Acabaram sendo socorridos por paramédicos, mas não terminou aí. Leandro acabou matando a senhora Adriana após uma possessão e acabou preso. Já Artur deixou de sair à rua, passando a estudar em casa. Passou a ficar com medo. O espírito tinha se prendido a Artur. E pior do que isso, Artur começou a ter medo de relógios. Medo de ouvir o barulho de relógios. Aquele "tic-tac" do relógio da biblioteca ainda o assombrava.
Maldita prova de História! Os portugueses sempre irão possuí-lo.

"Tic-Tac".

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