quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A Aranha Australiana

Andrea e Juan desfrutavam de uma maravilhosa lua de mel, nas paradisíacas praias da Austrália. Estavam num complexo turístico exclusivo, com praias de areia branca, águas cristalinas e a poucos metros de uma floresta. Era um dos poucos luxos que haviam se permitido após o casamento, pois nesses tempos de crise, tinham que se cuidar para não exagerar nos gastos. Os pais dela tinham insistido e assumido mais da metade do preço da viagem, o que motivou o casal a aventurar-se e realizar o sonho de viajar para a Austrália e desfrutar daquelas que seriam as melhores férias das suas vidas.

Os dias passavam rápido, como sempre acontece quando alguém se diverte, e não poderiam ter imaginado um lugar melhor. A “pulseirinha” que tinham contratado com o pacote do alojamento, dava-lhes direito a comer, beber e entrar em várias festas totalmente grátis. Era um sonho realizado, que dentro de pouco tempo acabaria, para eles despertarem e voltarem às suas monótonas rotinas de trabalho.

Quando faltavam apenas dois dias para a viagem de volta, conheceram um guia local, que prometeu levá-los a uma cascata que poucos turistas chegaram a conhecer. A viagem não era muito comprida, mas teriam que entrar na floresta a pé, uma caminhada de uns vinte minutos cruzando a frondosa selva. Na manhã seguinte, saíram com o guia, que, com um machete na mão, abria caminho pela mata. A vegetação exótica deixou os recém-casados maravilhados.
Entretanto, nem tudo era lindo. Os mosquitos eram muito insistentes, e até com o corpo banhado em repelente, sempre havia algum suficientemente voraz para atrever-se a picar. O guia ofereceu-lhes uma pomada feita de plantas nativas, que foi muito mais efectiva que o repelente de farmácia. Nenhum insecto os incomodou depois que a usaram.

Ao chegar na cascata, Andrea e Juan ficaram abismados com a beleza do lugar, uma pequena lagoa com a água mais limpa que já haviam visto, era adornada por uma queda d’água de uns quatro metros de altura. O canto dos pássaros, a selva em volta deles e o céu azul mais intenso que poderiam ter visto... Era o mais perto do paraíso que já haviam chegado.

O guia disse-lhes que voltaria em algumas horas, aconselhou-lhes que não se distanciassem do lugar, pois a selva poderia ser muito perigosa e era muito fácil perderem-se. Não queria incomodá-los no seu último dia de lua-de-mel e, a verdade é que eles também preferiam ficar sozinhos. Largaram as suas toalhas e bolsas e começaram a brincar na água, nadavam e beijavam-se, sabendo que, provavelmente, seria a última vez que estariam num lugar como esse.

Meia hora depois, cansados da água, decidiram comer e descansar sobre as toalhas. Quase sem se dar conta, Andrea adormeceu, mas logo despertou do sono com uma forte fincada no seu pescoço. Assustada, deu uma palmada na região e afugentou para longe um animal escuro que rapidamente se escondeu na vegetação, sem que ela tivesse tempo de ver o que era.

Juan examinou a esposa e viu uma pequena marca vermelha na zona da picada. Passou novamente a pomada que o guia havia lhes dado. Tinha sido um descuido não terem se protegido dos insectos após o banho.
Depois de um tempo, já tinham esquecido o assunto, pois a picada não incomodou por muito tempo, e logo chegou o guia para levá-los de volta. Mostrou-lhes alguns lugares bonitos que havia por perto e acompanhou-os ao hotel, onde entristecidos, começaram a arrumar as malas.

No dia seguinte, com muita tristeza, embarcaram para casa. Uma viagem de avião comprida e cansativa. No aeroporto, as famílias de ambos esperavam para um jantar na casa dos recém-casados, onde foi contado tudo sobre a viagem e foram mostradas fotos.
Andrea sentia um leve formigueiro no lugar da picada, mas foi uma semana depois que começou a complicar. O local inchou e virou um hematoma escuro. O formigueiro converteu-se em dor, e quase não podia tocar naquela zona, pois começava a latejar.

Juan levou a mulher ao médico, que lhes disse que Andrea estava com uma forte infecção. Avisou à enfermeira para que trouxesse o seu material cirúrgico e explicou-lhes que seria preciso uma pequena incisão, para deixar que o pus saísse e começar a tratar a zona. Também teria que tomar antibióticos por, pelo menos, sete dias.

Andrea era muito medrosa, e a ideia de que iriam cortar o seu pescoço com um bisturi dava-he pavor. Contudo, foi uma frase do médico que a deixou paralisada: “Se não ficar imóvel, corre o risco de que eu corte a sua jugular.” Paralisada de medo, sentiu quando o médico começou a cortar a zona.
Mas um imprevisto aconteceu.
O médico saltou para trás ao terminar o corte, aterrorizado.
Andrea sentia o sangue deslizar pelo seu pescoço, mas havia algo mais, podia sentir que algo parecia subir até a boca. Como é possível que o sangue subisse e se estendesse por todo o seu pescoço até à sua nuca? Porque o médico não se aproximava?

Segundos depois, a enfermeira entrou novamente na sala. Tinha saído a pedido do médico, para trazer mais gases. Ao olhar para Andrea, começou a gritar desesperada e saiu da sala a correr, fazendo com que a porta batesse fortemente.

Andrea levou a mão ao pescoço e pôde notar que, o que ela pensava ser sangue, subia até aos seus dedos. Ao olhar para a sua mão, entrou em choque e logo depois caiu desmaiada.
Dezenas de pequenas aranhas, sujas de sangue e pus, se moviam desesperadas entre os seus dedos, e muitas mais escapavam pelo corte recém aberto no seu pescoço.

Às vezes sente uma vontade de coçar esquisita durante a noite? Cuidado...


Ricardo.